Meloidogyne

Conheça Meloidogyne, os nematoides das galhas mais destrutivos da agricultura. Aprenda como identificar, controlar e manejar esta praga. Guia completo.
Dafratec
Por: Dafratec | Em 14/08/2025 | Termo
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Meloidogyne: O que são, Controle e Como Identificar os Nematoides das Galhas

Meloidogyne é um gênero de nematoides endoparasitas sedentários responsável por formar as características galhas nas raízes das plantas hospedeiras. Conhecidos popularmente como nematoides das galhas, estes vermes microscópicos são considerados uma das pragas mais destrutivas da agricultura mundial, afetando praticamente todas as culturas de importância econômica.

Segundo a Embrapa, "as espécies Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita de nematoides formadores de galhas destacam-se pelos danos que causam à soja", sendo constatadas com maior frequência em diversas regiões produtoras do Brasil. O controle eficaz destes parasitas pode incluir métodos sustentáveis como o uso de bionematicida, que representam alternativas ecológicas aos nematicidas químicos convencionais, promovendo agricultura mais sustentável e ambientalmente responsável.

Este guia completo abordará os aspectos fundamentais sobre Meloidogyne:

  • Características biológicas e morfológicas das espécies de Meloidogyne
  • Principais espécies e distribuição geográfica no Brasil
  • Ciclo de vida e processo de formação das galhas
  • Sintomas e danos econômicos causados nas culturas
  • Métodos de identificação e diagnóstico preciso
  • Estratégias de controle integrado e sustentável
  • Resistência genética e variedades resistentes disponíveis

Características Biológicas do Gênero Meloidogyne

Os nematoides do gênero Meloidogyne pertencem à família Meloidogynidae e são caracterizados por seu modo de parasitismo único. São endoparasitas sedentários que passam a maior parte de seu ciclo de vida dentro das raízes das plantas hospedeiras, onde estabelecem sítios permanentes de alimentação.

Morfologicamente, as fêmeas adultas de Meloidogyne apresentam corpo globoso e sedentário, medindo entre 0,44 a 1,3 mm de comprimento. Os machos são vermiformes, móveis e não se alimentam após atingir a maturidade sexual. As fêmeas são capazes de produzir entre 400 a 500 ovos em uma matriz gelatinosa, garantindo alta taxa reprodutiva e rápido estabelecimento populacional.

A característica mais distintiva deste gênero é sua capacidade de induzir a formação de células gigantes multinucleadas nas raízes hospedeiras. Estas células servem como sítios de alimentação permanentes e são responsáveis pela formação das galhas características que dão nome ao grupo.

Principais Espécies de Meloidogyne e Distribuição no Brasil

O Brasil abriga atualmente 21 espécies descritas de Meloidogyne, sendo algumas de ampla distribuição e alta importância econômica. A identificação correta das espécies é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de manejo eficazes.

Espécies de Maior Importância Econômica

As quatro espécies de Meloidogyne de maior distribuição mundial e que causam os maiores prejuízos econômicos no Brasil são:

  • Meloidogyne incognita: Amplamente distribuída, especialmente prejudicial à soja, algodão e hortaliças
  • Meloidogyne javanica: Comum em regiões de clima mais quente, afeta principalmente soja e café
  • Meloidogyne arenaria: Predominante em solos arenosos, causando danos significativos ao amendoim
  • Meloidogyne hapla: Adaptada a temperaturas mais baixas, problemática em regiões Sul e Sudeste

Além destas, outras espécies importantes incluem M. enterolobii (anteriormente M. mayaguensis), M. paranaensis, M. morocciensis e M. coffeicola, cada uma com características específicas de hospedeiros e distribuição geográfica.

Distribuição Geográfica e Hospedeiros

No Brasil, as espécies de Meloidogyne estão amplamente distribuídas, com variações regionais significativas. Segundo a Embrapa, "elas têm sido constatadas com maior frequência no norte do RS, sudoeste e norte do PR, sul e norte de SP e sul do Triângulo Mineiro. Na região Central do Brasil, o problema é crescente, com severos danos em lavouras do MS e GO".

A polifagia é uma característica marcante deste gênero, com diferentes espécies capazes de parasitar centenas de espécies vegetais, incluindo culturas anuais, perenes, hortaliças e plantas ornamentais. Esta ampla gama de hospedeiros dificulta o manejo através da rotação de culturas.

Ciclo de Vida e Formação das Galhas

O ciclo de vida das espécies de Meloidogyne é complexo e altamente especializado, durando entre 3 a 8 semanas dependendo da temperatura, umidade e espécie hospedeira. Compreender este ciclo é essencial para desenvolver estratégias de controle eficazes.

Fases do Desenvolvimento

O ciclo de vida completo inclui seis fases distintas: ovo, quatro estádios juvenis (J1, J2, J3, J4) e adulto. O primeiro estádio juvenil (J1) desenvolve-se dentro do ovo e sofre ecdise antes da eclosão. O juvenil de segundo estádio (J2) é a forma infectiva e única fase móvel no solo.

Após penetrar na raiz próximo à zona de crescimento, o J2 migra intercelularmente até localizar células do cilindro vascular adequadas para estabelecer seu sítio de alimentação. A injeção de secreções esofageanas do nematoide induz a formação de células gigantes multinucleadas, que se tornam o sítio permanente de alimentação.

O desbalanço hormonal causado pela alimentação do nematoide provoca hiperplasia (multiplicação celular) e hipertrofia (aumento do tamanho celular) dos tecidos circundantes, resultando na formação das galhas características. Este processo é irreversível e persiste mesmo após a morte do nematoide.

Sintomas e Danos Causados por Meloidogyne

Os sintomas causados por Meloidogyne variam conforme a espécie do nematoide, cultivar hospedeira, densidade populacional e condições ambientais. O reconhecimento precoce destes sintomas é crucial para evitar perdas econômicas significativas.

Sintomas no Sistema Radicular

O sintoma mais característico e diagnóstico de Meloidogyne é a presença de galhas nas raízes. Estas formações tumorais variam em tamanho e forma conforme a interação nematoide-hospedeiro, podendo ser pequenas e discretas ou grandes e coalescentes.

Em infestações severas, as galhas podem coalescer formando massas tumorais que comprometem severamente a função radicular. Massas de ovos branco-pérola são frequentemente visíveis na superfície das galhas, facilitando a identificação em campo. A degradação das galhas por patógenos secundários é comum em infestações crônicas.

Sintomas Reflexos na Parte Aérea

Conforme documentado pela Embrapa, "nas áreas onde ocorrem, observam-se manchas em reboleiras nas lavouras, onde as plantas de soja ficam pequenas e amareladas. As folhas das plantas afetadas normalmente apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha 'carijó'".

Os sintomas reflexos incluem nanismo, amarelecimento foliar, murcha durante períodos de estresse hídrico, deficiências nutricionais aparentes e formação de reboleiras na lavoura. Em alguns casos, "pode não ocorrer redução no tamanho das plantas, mas, por ocasião do florescimento, nota-se intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro das plantas atacadas".

Métodos de Identificação e Diagnóstico

A identificação precisa das espécies de Meloidogyne é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de manejo eficazes. Diferentes espécies apresentam variações na gama de hospedeiros, agressividade e resposta a métodos de controle.

Diagnóstico Morfológico

A identificação morfológica tradicional baseia-se na análise de características das fêmeas adultas, configuração perineal, morfologia dos juvenis de segundo estádio e padrões de esterase. Este método requer expertise técnica especializada e equipamentos específicos de laboratório.

As configurações perineais (padrões de cutícula ao redor da região anal e vulvar das fêmeas) são características diagnósticas importantes, embora possam apresentar variações intraespecíficas que dificultam a identificação. A análise de isoenzimas, especialmente esterases, fornece padrões bioquímicos específicos para cada espécie.

Técnicas Moleculares Modernas

As técnicas de biologia molecular revolucionaram a taxonomia de Meloidogyne, oferecendo ferramentas mais precisas e rápidas para identificação específica. Métodos como PCR-RFLP, sequenciamento de regiões específicas do DNA e PCR em tempo real permitem identificação inequívoca das espécies.

Marcadores moleculares como as regiões ITS (Internal Transcribed Spacer) do rDNA e genes mitocondriais são amplamente utilizados para diferenciação específica. Estas técnicas são especialmente valiosas para identificar espécies crípticas morfologicamente similares.

Estratégias de Controle Integrado

O manejo eficaz de Meloidogyne requer uma abordagem integrada que combine múltiplas táticas de controle. Nenhuma estratégia isolada é suficientemente eficaz para controlar completamente as populações destes nematoides a longo prazo.

Controle Cultural e Práticas Agronômicas

As práticas culturais constituem a base do manejo sustentável de Meloidogyne. A rotação de culturas com plantas não hospedeiras ou resistentes é uma das estratégias mais eficazes para reduzir populações do nematoide no solo.

Plantas antagonistas como crotalárias (Crotalaria spp.), mucunas (Mucuna spp.) e tagetes (Tagetes spp.) demonstram propriedades nematicidas ou nematostáticas. Estas plantas podem ser utilizadas em rotação, consórcio ou como adubos verdes para reduzir significativamente as populações de Meloidogyne.

O manejo da matéria orgânica através da incorporação de restos culturais e adubação orgânica estimula a atividade de microrganismos antagonistas naturais. Práticas como solarização do solo e pousio bem manejado também contribuem para a redução populacional.

Controle Biológico e Bionematicidas

O controle biológico utiliza organismos vivos para suprimir populações de Meloidogyne de forma sustentável. Fungos nematófagos como Pochonia chlamydosporia, Trichoderma spp. e Paecilomyces lilacinus são eficazes na redução de ovos e juvenis no solo.

Produtos biológicos comerciais baseados em microrganismos benéficos estão cada vez mais disponíveis como bionematicidas. Estes produtos oferecem alternativas sustentáveis aos nematicidas químicos, sendo compatíveis com sistemas de produção orgânicos e programas de manejo integrado.

Bactérias como Bacillus spp. e Pseudomonas spp. produzem metabólitos secundários com atividade nematicida. A aplicação destes microrganismos pode ser feita via tratamento de sementes, sulco de plantio ou aplicação foliar, dependendo do produto e cultura.

Resistência Genética e Melhoramento

Como enfatizado pela Embrapa, "a utilização de cultivares de soja resistentes aos nematoides de galha é o meio de controle mais eficiente e mais adequado para o agricultor". O desenvolvimento de variedades resistentes representa uma das estratégias mais sustentáveis e economicamente viáveis.

A resistência a Meloidogyne pode ser controlada por genes únicos dominantes ou recessivos, ou por múltiplos genes. Os genes Mi (em tomateiro), N (em amendoim) e rhg1 e Rhg4 (em soja) são exemplos bem estudados de resistência a diferentes espécies de Meloidogyne.

A Embrapa desenvolveu "cultivares de soja resistentes a algumas raças do nematoide de galhas, como as cultivares BRS282 e BRS256RR, resistentes ao M. incognita e M. javanica e a cultivar BRS260, resistente ao M. incognita e moderadamente resistente ao M. javanica".

Manejo da Resistência

O manejo adequado da resistência é crucial para prolongar sua eficácia. A rotação de variedades com diferentes genes de resistência, uso de cultivares com resistência múltipla e monitoramento de quebra de resistência são práticas essenciais.

A pressão seletiva exercida pelo uso contínuo de variedades resistentes pode levar ao desenvolvimento de populações de nematoides virulentas, capazes de superar a resistência. Por isso, a resistência deve ser integrada com outras táticas de manejo.

Controle Químico e Nematicidas

Os nematicidas químicos continuam sendo ferramentas importantes no manejo de Meloidogyne, especialmente em situações de alta infestação, culturas de alto valor ou quando outras estratégias são insuficientes.

Os nematicidas podem ser classificados como fumigantes (brometo de metila, cloropicrina) ou não fumigantes (organofosforados, carbamatos, avermectinas). A escolha do produto deve considerar eficácia, custo, segurança ambiental e período de carência.

O tratamento de sementes com nematicidas sistêmicos oferece proteção durante as fases iniciais críticas do desenvolvimento das culturas. Esta modalidade de aplicação reduz a exposição ambiental e permite aplicação localizada e econômica do produto.

Resistência a Nematicidas

O desenvolvimento de resistência a nematicidas em populações de Meloidogyne é uma preocupação crescente. A rotação de produtos com diferentes modos de ação e integração com métodos não químicos são estratégias para retardar o desenvolvimento de resistência.

Impactos Econômicos e Perdas na Produção

Os nematoides do gênero Meloidogyne estão entre as pragas que causam maiores perdas econômicas na agricultura mundial. No Brasil, os prejuízos são especialmente significativos em culturas como soja, algodão, café, tomate e hortaliças em geral.

[Unverified] Estimativas conservadoras indicam que Meloidogyne pode causar reduções de produtividade entre 10% a 40% nas culturas suscetíveis, dependendo da densidade populacional, condições ambientais e suscetibilidade da cultivar. Em casos severos, as perdas podem atingir 100% da produção em áreas localizadas.

Além das perdas diretas na produção, os custos indiretos incluem investimentos em diagnóstico, aplicação de nematicidas, uso de variedades resistentes e modificações no sistema produtivo. [Inference] O retorno do investimento em manejo integrado é geralmente positivo quando as práticas são implementadas adequadamente.

Aspectos Ecológicos e Ambientais

Embora Meloidogyne seja amplamente conhecido pelos danos econômicos, é importante compreender sua função ecológica nos ecossistemas naturais. Em ambientes não cultivados, estes nematoides participam das redes tróficas e processos de ciclagem de nutrientes.

A introdução de espécies exóticas de Meloidogyne através do comércio internacional de plantas e solo representa uma ameaça à biodiversidade nativa. Espécies como M. enterolobii têm demonstrado capacidade de quebrar resistência em variedades comerciais e expandir rapidamente sua distribuição geográfica.

O manejo sustentável de Meloidogyne deve considerar a preservação da biodiversidade do solo e a minimização de impactos ambientais, priorizando métodos de controle ecologicamente compatíveis e reduzindo a dependência de produtos químicos.

Tecnologias Emergentes e Perspectivas Futuras

A pesquisa científica continua desenvolvendo novas abordagens para o controle de Meloidogyne, incluindo tecnologias mais precisas, sustentáveis e eficientes para o manejo destes importantes fitopatógenos.

Técnicas de edição genética como CRISPR-Cas9 estão sendo utilizadas para desenvolver plantas com resistência aprimorada e durável aos nematoides. A engenharia genética permite a introdução de genes de resistência de espécies não relacionadas e o desenvolvimento de resistência multiplexada.

Nanotecnologia aplicada ao desenvolvimento de sistemas de liberação controlada de nematicidas promete aumentar a eficiência dos produtos e reduzir impactos ambientais. Nanopartículas carregadoras podem direcionar princípios ativos especificamente aos sítios de infecção, otimizando a ação nematicida.

A agricultura de precisão utiliza sensores, drones e sistemas de informação geográfica para mapear infestações de nematoides e aplicar tratamentos localizados. Esta abordagem permite otimização de recursos e redução de custos de manejo.

FAQ - Perguntas Frequentes sobre Meloidogyne

Como identificar se minha plantação está atacada por Meloidogyne?

Os sintomas mais característicos são a presença de galhas nas raízes e formação de reboleiras na lavoura com plantas amareladas e de crescimento reduzido. Massas de ovos branco-pérola são visíveis nas galhas. É recomendável fazer análise laboratorial para confirmação da espécie.

Qual a diferença entre as principais espécies de Meloidogyne?

M. incognita e M. javanica são as mais comuns no Brasil, sendo M. incognita mais agressiva em temperaturas elevadas. M. arenaria prefere solos arenosos e M. hapla é adaptada a temperaturas mais baixas. Cada espécie tem gama específica de hospedeiros preferenciais.

Existe controle biológico eficaz para Meloidogyne?

Sim, fungos como Pochonia chlamydosporia e bactérias como Bacillus spp. são utilizados como bionematicidas. Plantas antagonistas como crotalária e mucuna também demonstram eficácia no controle populacional. O controle biológico é mais efetivo quando integrado com outras práticas.

Como fazer rotação de culturas para controlar Meloidogyne?

Utilize plantas não hospedeiras como gramíneas (milho, sorgo, milheto) ou plantas antagonistas (crotalárias, mucunas). Evite culturas da mesma família botânica em sequência. A rotação deve durar pelo menos uma safra para reduzir significativamente a população.

Variedades resistentes são eficazes contra todas as espécies de Meloidogyne?

Não, a resistência é geralmente específica para determinadas espécies ou raças. É fundamental identificar corretamente a espécie presente na área antes de escolher a variedade. Algumas variedades possuem resistência múltipla, mas não universal.

Quanto tempo leva para reduzir uma população de Meloidogyne?

Com manejo integrado adequado, reduções significativas podem ser observadas em 1-2 anos. Métodos culturais como rotação e plantas antagonistas requerem 2-3 ciclos para máxima eficácia. O controle químico oferece resultados mais rápidos mas temporários.

É possível eliminar completamente Meloidogyne do solo?

A eliminação completa é praticamente impossível devido à capacidade de sobrevivência e disseminação dos nematoides. O objetivo do manejo é reduzir a população abaixo do limiar de dano econômico e manter níveis baixos através de práticas integradas consistentes.

Leituras Complementares Recomendadas

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Meloidogyne e nematoides das galhas, recomendamos a leitura sobre os seguintes temas relacionados:

  • Nematologia Vegetal - Ciência que estuda nematoides parasitas de plantas
  • Fitopatologia - Área que abrange o estudo de doenças em plantas
  • Controle Biológico de Pragas - Métodos sustentáveis de manejo fitossanitário
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