Introdução às Categorias de Água Farmacêutica
A água para a indústria farmacêutica é classificada em diferentes categorias, dependendo do uso e do grau de pureza exigido:
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Purified Water (PW): indicada para formulações não estéreis, equipamentos de limpeza e preparação de soluções.
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Water for Injection (WFI): água estéril, livre de pirogênios, usada principalmente na produção de injetáveis.
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Highly Purified Water (HPW): categoria intermediária, utilizada em aplicações específicas onde se exige pureza superior à PW, mas sem a esterilidade da WFI.
As normas existem para padronizar os métodos de análise e garantir que cada tipo de água atenda a requisitos específicos de pureza físico-química e microbiológica.
Farmacopeias e Capítulos Essenciais
As farmacopeias são referências internacionais que estabelecem métodos de ensaio e limites de aceitação para a água farmacêutica. Entre as mais usadas estão a USP (United States Pharmacopeia) e a EP (European Pharmacopoeia).
USP <1231> – “Water Conductivity and Resistivity”
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O que envolve: define como medir condutividade e resistividade da água.
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Por que importa: condutividade alta indica a presença de íons dissolvidos, sinal de impurezas inorgânicas.
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Limites típicos:
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PW: condutividade ≤ 2,1 µS/cm a 25 °C.
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WFI: condutividade ≤ 1,3 µS/cm a 20 °C.
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USP <643> – “Total Organic Carbon (TOC) in Pharmaceutical Waters”
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O que envolve: estabelece o método de medição de TOC.
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Por que importa: composto orgânico residual em excesso pode contaminar produtos finais ou interferir em testes analíticos.
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Limites típicos:
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PW: TOC ≤ 500 ppb.
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WFI: TOC ≤ 500 ppb.
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USP <645> – “Inorganic Contaminants in Water”
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O que envolve: exame de condutividade em temperatura controlada para detecção de contaminantes inorgânicos.
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Por que importa: complementa o teste de condutividade, ajustando-o a 25 °C para comparação direta de resultados.
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Limites típicos:
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PW: condutividade corrigida a 25 °C ≤ 2,3 µS/cm.
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WFI: condutividade corrigida a 25 °C ≤ 1,1 µS/cm.
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EP – “Water for Pharmaceutical Purposes” (Capítulo Geral 2.2.44)
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O que envolve: especifica requisitos para PW, WFI e HPW segundo a farmacopeia europeia.
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Por que importa: harmoniza critérios de pureza, microbiologia, endotoxinas e parâmetros físico-químicos.
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Principais testes:
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Contagem microbiológica total.
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Endotoxinas bacterianas (método LAL).
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TOC e condutividade.
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Capítulos de Microbiologia Aplicáveis
Além dos parâmetros físico-químicos, a qualidade microbiológica da água é imprescindível. As farmacopeias abordam esse tema em capítulos específicos:
USP <61> – “Microbial Examination of Nonsterile Products: Microbial Limits”
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O que envolve: determina contagem total de microrganismos mesófilos, bolores e leveduras.
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Por que importa: água usada em formulações não estéreis deve ter carga microbiana controlada.
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Limites típicos:
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PW: até 100 UFC/mL (unidades formadoras de colônia) como contagem padrão.
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USP <62> – “Microbiological Examination of Nonsterile Products: Test for Specified Microorganisms”
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O que envolve: identifica microrganismos específicos como Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli.
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Por que importa: certas bactérias podem gerar endotoxinas ou representar risco de contaminação em produtos farmacêuticos.
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Ação prática: testes direcionados para patógenos críticos, complementando a contagem total.
EP 2.6.12 – “Bacterial Endotoxins Test” e EP 2.6.12.1 – “Limulus Amebocyte Lysate (LAL)”
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O que envolve: método LAL para detecção de endotoxinas bacterianas.
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Por que importa: endotoxinas em WFI ou em soluções parenterais podem causar reações adversas graves em pacientes.
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Limites típicos:
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WFI: endotoxinas ≤ 0,25 UI/mL (Unidade Internacional por mililitro).
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Regulamentações Nacionais e Internacionais de GMP
Além das farmacopeias, as agências regulatórias estabelecem normas mais amplas para garantir que todo o processo de geração, distribuição e uso da água esteja em conformidade com as Boas Práticas de Fabricação (GMP).
RDC 430/2020 (ANVISA)
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O que envolve: diretrizes para Boas Práticas de Fabricação no Brasil.
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Relação com água:
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Qualificação de sistemas: exige IQ/OQ/PQ completos para sistemas de PW e WFI.
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Monitoramento contínuo: frequência mínima de medições (condutividade, TOC, endotoxinas, contagem microbiana).
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Documentação rigorosa: todos os registros de sanitização, manutenção e calibração devem ser mantidos.
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FDA 21 CFR Part 211 – “Current Good Manufacturing Practice for Finished Pharmaceuticals”
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O que envolve: regulamento de GMP para medicamentos nos EUA.
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Relação com água:
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Estabelece que a água usada em formulações deve atender a “appropriate quality standards”.
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Recomendações sobre qualificação do sistema, frequência de testes e documentação de desvios.
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Não detalha métodos analíticos (remete aos capítulos da USP).
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Harmonização PIC/S
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O que envolve: acordo entre agências regulatórias de diferentes países para harmonizar padrões de GMP.
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Relação com água: promove a adoção de critérios baseados em USP, EP, e demais farmacopeias reconhecidas, facilitando exportação e auditorias internacionais.
Qualificação e Validação de Sistemas de Água
As normas indicam que todo sistema de purificação deve ser qualificado e validado em três etapas principais:
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IQ (Instalação Qualification)
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Verifica se todos os componentes foram instalados conforme projeto.
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Documenta localização de tanques, tubulações, bombas, membranas e sensores.
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OQ (Operational Qualification)
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Avalia se cada parte do sistema opera dentro dos parâmetros esperados (pressão, vazão, temperaturas, condutividade).
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Realiza testes de funcionalidade individual (RO, destilação, EDI).
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PQ (Performance Qualification)
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Valida o desempenho real do sistema em condições de operação contínua.
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Monitora parâmetros críticos ao longo de um período (TOC, condutividade, contagem microbiana, endotoxinas).
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Garante que o sistema produz água dentro dos limites especificados pelas farmacopeias.
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Documentação Necessária
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Protocolos de teste: roteiros detalhados de cada ensaio (condutividade, TOC, endotoxinas, microbiologia).
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Relatórios de qualificação: resultados obtidos, análises de desvios e justificativas de aceitação.
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Registros de manutenção preventiva: troca de membranas, limpeza de tanques, sanitização do loop.
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Logs de sanitização: data, hora, tipo de sanitização (térmica ou química), duração e resultado (biocarga após sanitização).
Principais Desafios de Conformidade
Manter um sistema de água farmacêutica em conformidade envolve diversos obstáculos práticos:
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Variações de temperatura e condutividade
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Em loops de distribuição, a temperatura pode cair; ajustes frequentes de compensação de condutividade são necessários.
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Uso de pontos de amostragem estratégicos ao longo do loop para garantir homogeneidade da água.
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Controle de biofilme
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Biofilmes se formam facilmente em águas ricas em nutrientes mínimos.
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É imprescindível a escolha de materiais adequados (aço inox 316L, solda orbital) e a elaboração de ciclos regulares de sanitização térmica (≥ 70 °C) ou sanitização química (mistura de peróxido de hidrogênio e ácido peracético).
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Requisitos de sanitização térmica vs. química
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Sanitização térmica: elimina microrganismos sem deixar resíduos químicos, mas exige geração de vapor e pode causar variações de temperatura durante a operação.
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Sanitização química: requer controle rigoroso de resíduos no processo de limpeza para não contaminar a água final.
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A escolha do método depende do layout da planta, disponibilidade de utilidades (vapor, ar comprimido) e cronograma de produção.
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Conclusão e Boas Práticas
As normas para purificação de água farmacêutica garantem que todo o processo – desde a geração até a distribuição – produza água dentro de padrões seguros para a fabricação de medicamentos.
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Farmacopeias (USP e EP): fornecem métodos analíticos e limites de aceitação para parâmetros críticos (condutividade, TOC, endotoxinas, microbiologia).
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GMP (ANVISA, FDA, PIC/S): estabelecem requisitos para qualificação de sistemas, documentação e monitoramento contínuo.
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Validação IQ/OQ/PQ: passo a passo para comprovar que um sistema funciona conforme projetado em todas as condições operacionais.
Boas práticas para manter a conformidade:
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Realizar calibração periódica de instrumentos (medidores de condutividade, TOC, pH).
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Estabelecer rotina de sanitização documentada, com análise pós-sanitização para detecção de biofilme.
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Treinar equipes de Operação e Manutenção nas normas e nos protocolos de coleta de amostras.
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Atualizar-se continuamente sobre mudanças nas farmacopeias e nas regulamentações de GMP.
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Manter registros claros e acessíveis para facilitar auditorias ANVISA, FDA ou outras agências.
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