Capa do Artigo Normas para Purificação de Água Farmacêutica

Normas para Purificação de Água Farmacêutica

Por: Dafratec | Em 30/05/2025 | Artigo
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Introdução às Categorias de Água Farmacêutica

A água para a indústria farmacêutica é classificada em diferentes categorias, dependendo do uso e do grau de pureza exigido:

  • Purified Water (PW): indicada para formulações não estéreis, equipamentos de limpeza e preparação de soluções.

  • Water for Injection (WFI): água estéril, livre de pirogênios, usada principalmente na produção de injetáveis.

  • Highly Purified Water (HPW): categoria intermediária, utilizada em aplicações específicas onde se exige pureza superior à PW, mas sem a esterilidade da WFI.

As normas existem para padronizar os métodos de análise e garantir que cada tipo de água atenda a requisitos específicos de pureza físico-química e microbiológica.


Farmacopeias e Capítulos Essenciais

As farmacopeias são referências internacionais que estabelecem métodos de ensaio e limites de aceitação para a água farmacêutica. Entre as mais usadas estão a USP (United States Pharmacopeia) e a EP (European Pharmacopoeia).

USP <1231> – “Water Conductivity and Resistivity”

  • O que envolve: define como medir condutividade e resistividade da água.

  • Por que importa: condutividade alta indica a presença de íons dissolvidos, sinal de impurezas inorgânicas.

  • Limites típicos:

    • PW: condutividade ≤ 2,1 µS/cm a 25 °C.

    • WFI: condutividade ≤ 1,3 µS/cm a 20 °C.

USP <643> – “Total Organic Carbon (TOC) in Pharmaceutical Waters”

  • O que envolve: estabelece o método de medição de TOC.

  • Por que importa: composto orgânico residual em excesso pode contaminar produtos finais ou interferir em testes analíticos.

  • Limites típicos:

    • PW: TOC ≤ 500 ppb.

    • WFI: TOC ≤ 500 ppb.

USP <645> – “Inorganic Contaminants in Water”

  • O que envolve: exame de condutividade em temperatura controlada para detecção de contaminantes inorgânicos.

  • Por que importa: complementa o teste de condutividade, ajustando-o a 25 °C para comparação direta de resultados.

  • Limites típicos:

    • PW: condutividade corrigida a 25 °C ≤ 2,3 µS/cm.

    • WFI: condutividade corrigida a 25 °C ≤ 1,1 µS/cm.

EP – “Water for Pharmaceutical Purposes” (Capítulo Geral 2.2.44)

  • O que envolve: especifica requisitos para PW, WFI e HPW segundo a farmacopeia europeia.

  • Por que importa: harmoniza critérios de pureza, microbiologia, endotoxinas e parâmetros físico-químicos.

  • Principais testes:

    • Contagem microbiológica total.

    • Endotoxinas bacterianas (método LAL).

    • TOC e condutividade.


Capítulos de Microbiologia Aplicáveis

Além dos parâmetros físico-químicos, a qualidade microbiológica da água é imprescindível. As farmacopeias abordam esse tema em capítulos específicos:

USP <61> – “Microbial Examination of Nonsterile Products: Microbial Limits”

  • O que envolve: determina contagem total de microrganismos mesófilos, bolores e leveduras.

  • Por que importa: água usada em formulações não estéreis deve ter carga microbiana controlada.

  • Limites típicos:

    • PW: até 100 UFC/mL (unidades formadoras de colônia) como contagem padrão.

USP <62> – “Microbiological Examination of Nonsterile Products: Test for Specified Microorganisms”

  • O que envolve: identifica microrganismos específicos como Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli.

  • Por que importa: certas bactérias podem gerar endotoxinas ou representar risco de contaminação em produtos farmacêuticos.

  • Ação prática: testes direcionados para patógenos críticos, complementando a contagem total.

EP 2.6.12 – “Bacterial Endotoxins Test” e EP 2.6.12.1 – “Limulus Amebocyte Lysate (LAL)”

  • O que envolve: método LAL para detecção de endotoxinas bacterianas.

  • Por que importa: endotoxinas em WFI ou em soluções parenterais podem causar reações adversas graves em pacientes.

  • Limites típicos:

    • WFI: endotoxinas ≤ 0,25 UI/mL (Unidade Internacional por mililitro).


Regulamentações Nacionais e Internacionais de GMP

Além das farmacopeias, as agências regulatórias estabelecem normas mais amplas para garantir que todo o processo de geração, distribuição e uso da água esteja em conformidade com as Boas Práticas de Fabricação (GMP).

RDC 430/2020 (ANVISA)

  • O que envolve: diretrizes para Boas Práticas de Fabricação no Brasil.

  • Relação com água:

    1. Qualificação de sistemas: exige IQ/OQ/PQ completos para sistemas de PW e WFI.

    2. Monitoramento contínuo: frequência mínima de medições (condutividade, TOC, endotoxinas, contagem microbiana).

    3. Documentação rigorosa: todos os registros de sanitização, manutenção e calibração devem ser mantidos.

FDA 21 CFR Part 211 – “Current Good Manufacturing Practice for Finished Pharmaceuticals”

  • O que envolve: regulamento de GMP para medicamentos nos EUA.

  • Relação com água:

    1. Estabelece que a água usada em formulações deve atender a “appropriate quality standards”.

    2. Recomendações sobre qualificação do sistema, frequência de testes e documentação de desvios.

    3. Não detalha métodos analíticos (remete aos capítulos da USP).

Harmonização PIC/S

  • O que envolve: acordo entre agências regulatórias de diferentes países para harmonizar padrões de GMP.

  • Relação com água: promove a adoção de critérios baseados em USP, EP, e demais farmacopeias reconhecidas, facilitando exportação e auditorias internacionais.


Qualificação e Validação de Sistemas de Água

As normas indicam que todo sistema de purificação deve ser qualificado e validado em três etapas principais:

  1. IQ (Instalação Qualification)

    • Verifica se todos os componentes foram instalados conforme projeto.

    • Documenta localização de tanques, tubulações, bombas, membranas e sensores.

  2. OQ (Operational Qualification)

    • Avalia se cada parte do sistema opera dentro dos parâmetros esperados (pressão, vazão, temperaturas, condutividade).

    • Realiza testes de funcionalidade individual (RO, destilação, EDI).

  3. PQ (Performance Qualification)

    • Valida o desempenho real do sistema em condições de operação contínua.

    • Monitora parâmetros críticos ao longo de um período (TOC, condutividade, contagem microbiana, endotoxinas).

    • Garante que o sistema produz água dentro dos limites especificados pelas farmacopeias.

Documentação Necessária

  • Protocolos de teste: roteiros detalhados de cada ensaio (condutividade, TOC, endotoxinas, microbiologia).

  • Relatórios de qualificação: resultados obtidos, análises de desvios e justificativas de aceitação.

  • Registros de manutenção preventiva: troca de membranas, limpeza de tanques, sanitização do loop.

  • Logs de sanitização: data, hora, tipo de sanitização (térmica ou química), duração e resultado (biocarga após sanitização).


Principais Desafios de Conformidade

Manter um sistema de água farmacêutica em conformidade envolve diversos obstáculos práticos:

  • Variações de temperatura e condutividade

    • Em loops de distribuição, a temperatura pode cair; ajustes frequentes de compensação de condutividade são necessários.

    • Uso de pontos de amostragem estratégicos ao longo do loop para garantir homogeneidade da água.

  • Controle de biofilme

    • Biofilmes se formam facilmente em águas ricas em nutrientes mínimos.

    • É imprescindível a escolha de materiais adequados (aço inox 316L, solda orbital) e a elaboração de ciclos regulares de sanitização térmica (≥ 70 °C) ou sanitização química (mistura de peróxido de hidrogênio e ácido peracético).

  • Requisitos de sanitização térmica vs. química

    • Sanitização térmica: elimina microrganismos sem deixar resíduos químicos, mas exige geração de vapor e pode causar variações de temperatura durante a operação.

    • Sanitização química: requer controle rigoroso de resíduos no processo de limpeza para não contaminar a água final.

    • A escolha do método depende do layout da planta, disponibilidade de utilidades (vapor, ar comprimido) e cronograma de produção.


Conclusão e Boas Práticas

As normas para purificação de água farmacêutica garantem que todo o processo – desde a geração até a distribuição – produza água dentro de padrões seguros para a fabricação de medicamentos.

  • Farmacopeias (USP e EP): fornecem métodos analíticos e limites de aceitação para parâmetros críticos (condutividade, TOC, endotoxinas, microbiologia).

  • GMP (ANVISA, FDA, PIC/S): estabelecem requisitos para qualificação de sistemas, documentação e monitoramento contínuo.

  • Validação IQ/OQ/PQ: passo a passo para comprovar que um sistema funciona conforme projetado em todas as condições operacionais.

Boas práticas para manter a conformidade:

  1. Realizar calibração periódica de instrumentos (medidores de condutividade, TOC, pH).

  2. Estabelecer rotina de sanitização documentada, com análise pós-sanitização para detecção de biofilme.

  3. Treinar equipes de Operação e Manutenção nas normas e nos protocolos de coleta de amostras.

  4. Atualizar-se continuamente sobre mudanças nas farmacopeias e nas regulamentações de GMP.

  5. Manter registros claros e acessíveis para facilitar auditorias ANVISA, FDA ou outras agências.


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