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Procedimentos Oficiais para a Verificação da Esterilidade

Por: Dafratec | Em 23/07/2025 | Artigo
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Procedimentos Oficiais para a Verificação da Esterilidade

A USP <71> define dois procedimentos oficiais que devem ser utilizados para testar a esterilidade de produtos farmacêuticos estéreis: filtração por membrana e inoculação direta. A escolha do método depende das características do produto a ser analisado, conforme estabelecido pela United States Pharmacopeia e harmonizado com a ISO 11737-2:2019.

1. Filtração por membrana

Este é o procedimento preferencial para produtos líquidos, especialmente aqueles solúveis em água ou álcool. Ele oferece maior sensibilidade e menor interferência do produto sobre os microrganismos.

Como funciona:

  • A amostra é filtrada por uma membrana estéril com poros de 0,22 µm (prática laboratorial moderna mais segura, embora a USP 71 permita até 0,45 µm).
  • Essa membrana retém eventuais microrganismos presentes na amostra.
  • A membrana é então transferida para dois frascos estéreis:
    • Um contendo meio de tioglicolato fluido (FTM) para bactérias anaeróbias (incubado a 30–35 °C).
    • Outro com Caldo de Soja Tríptica (TSB) para fungos e bactérias aeróbias (incubado a 20–25 °C conforme especificação da USP 71).
  • A incubação dura 14 dias, e qualquer crescimento microbiano é avaliado visualmente.

Indicações:

  • Produtos aquosos, oleosos, alcoólicos ou emulsões que não interferem com o meio ou o crescimento microbiano.
  • Soluções de grandes volumes.

2. Inoculação direta

Esse método é utilizado quando o produto não pode ser filtrado, como no caso de suspensões, cremes ou produtos viscosos.

Como funciona:

  • Um volume definido da amostra é diretamente inoculado em frascos contendo os meios de cultura (FTM e TSB).
  • Os frascos são incubados nas mesmas condições de temperatura e tempo que o método de filtração.
  • O crescimento microbiano é monitorado por turbidez, mudança de cor ou depósito no fundo do frasco.

Indicações:

  • Produtos insolúveis ou muito viscosos.
  • Amostras que não passam por filtros sem obstrução.
  • Produtos com componentes que inibem o crescimento microbiano (requerem validação específica).

Outras Etapas do Procedimento

Além da escolha do método, os procedimentos oficiais envolvem outras etapas obrigatórias para garantir resultados válidos e confiáveis:

a) Validação do método de esterilidade

Antes de aplicar o teste em amostras comerciais, o laboratório deve validar o método para comprovar que ele é capaz de detectar microrganismos mesmo na presença do produto. São utilizadas cepas padrão como:

  • Staphylococcus aureus (ATCC 6538)
  • Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027)
  • Bacillus subtilis (ATCC 6633)
  • Candida albicans (ATCC 10231)
  • Aspergillus brasiliensis (ATCC 16404)
  • Clostridium sporogenes (ATCC 11437)

Critérios de validação específicos:

  • Recuperação mínima de 70% dos microrganismos-teste
  • Crescimento deve ocorrer em até 3 dias para bactérias
  • Fungos podem levar até 5 dias para apresentar crescimento visível

b) Controle ambiental rigoroso

Os testes devem ser realizados em ambiente ISO Classe 5 (Grau A), com condições específicas:

  • Pressão diferencial mínima de 12,5 Pa
  • Monitoramento contínuo de partículas
  • Troca de ar mínima de 20 renovações/hora
  • Pessoal treinado seguindo técnicas assépticas rigorosas

c) Controles positivos e negativos

É necessário utilizar controles positivos (com microrganismos viáveis) e controles negativos (sem microrganismos) para garantir a confiabilidade e sensibilidade do teste.

Incubação e Observação

Durante os 14 dias de incubação, os frascos devem ser inspecionados regularmente. A interpretação dos resultados segue critérios específicos estabelecidos pelas práticas de QA/QC farmacêuticas:

  • Ausência de crescimento: produto considerado estéril
  • Crescimento em 1-2 unidades: investigação obrigatória para identificar possível erro técnico
  • Crescimento em ≥3 unidades: reprovação automática do lote

Caso seja detectado crescimento microbiano, o lote é reprovado, a menos que uma investigação comprove erro técnico justificado.

Conclusão

Os procedimentos oficiais da USP <71> são rigorosamente padronizados para garantir que os produtos estéreis estejam realmente livres de microrganismos viáveis. Seguir corretamente cada etapa — desde a escolha do método até o controle ambiental e a validação — é essencial para proteger a saúde dos pacientes e garantir a conformidade com os padrões regulatórios internacionais.


Referências Técnicas:



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