Energia superficial e fluxo de pós: por que o estudo com D-manitol e iGC SEA merece atenção
O comportamento de fluxo de pós ainda é, em muitos laboratórios e plantas farmacêuticas, tratado quase como uma “caixa-preta”. Ajustam-se granulometrias, umidades, condições de compressão, mas a química de superfície das partículas continua sendo um ponto frequentemente negligenciado — mesmo sendo um dos fatores mais críticos para coesão, formação de aglomerados e estabilidade de processo.
O estudo com D-manitol usando o iGC SEA ( Inverse Gas Chromatography – Surface Energy Analyzer ) , em conjunto com o FT4 Powder Rheometer , mostra de forma clara como as distribuições de energia superficial se conectam diretamente à fluidez do pó . E, mais importante, revela como modificações químicas de superfície podem ser quantificadas e relacionadas ao desempenho real em processo.
o iGC SEA transforma “sensação de fluxo” em dados de energia superficial que explicam, justificam e ajudam a prever o comportamento de pós.
Do objetivo do estudo à realidade de quem trabalha com pós
O objetivo do estudo é direto e extremamente aplicável:
Relacionar a energia superficial (e sua heterogeneidade) de D-manitol com as propriedades de fluxo do pó, antes e depois de uma modificação química de superfície.
Em termos práticos, os autores medem “como é” a superfície do D-manitol em termos de energia dispersiva e ácido-base, realizam uma metilação/silanização nos grupos hidroxila expostos e comparam:
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como essa mudança aparece nos perfis de energia superficial medidos por iGC SEA
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e como ela se traduz em parâmetros de fluxo obtidos no FT4.
O D-manitol é um excelente modelo para a indústria: é um excipiente cristalino amplamente utilizado em comprimidos orais, mastigáveis e grânulos, sensível à morfologia e à umidade. Ou seja, não é um sistema artificial — é um material que efetivamente aparece na rotina de desenvolvimento farmacêutico.
Figura 1 Imagem SEM do D-manitol como recebido
Quando o tratamento de superfície muda o jogo: de hidrofílico heterogêneo a hidrofóbico homogêneo
No estudo, o D-manitol “AR” (sem tratamento) é submetido a uma reação com dicloro-dimetil-silano , que promove a metilação de grupos –OH expostos na superfície. Esses grupos hidroxila , naturalmente polares e hidrofílicos, são substituídos por –Si(CH₃)₂ , tornando a superfície mais hidrofóbica e menos polar.
Figura 2 Esquema da reação de metilação dos grupos hidroxila
Depois da reação, o material é lavado, seco e peneirado na mesma faixa granulométrica do pó original. Isso é fundamental: tamanho de partícula e distribuição granulométrica permanecem comparáveis , o que isola o efeito da química de superfície nas diferenças de fluxo.
Destaque importante: o estudo mostra que é possível melhorar a fluidez sem alterar drasticamente o tamanho de partícula — apenas ajustando a química de superfície.
Como o iGC SEA enxerga a superfície de um pó?
Em vez de trabalhar com superfícies planas idealizadas, o iGC SEA mede energia superficial em pós empacotados , tal como eles existem em processo.
A amostra (cerca de 2 g de D-manitol) é empacotada em uma coluna de vidro silanizada, formando um leito de partículas. Sobre esse leito, o equipamento injeta:
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alcanos , responsáveis por sondar a componente dispersiva da energia superficial (γᴰ)
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e sondas polares , que permitem determinar a componente específica ácido-base (γᴬᴮ).
O diferencial está no controle da cobertura de superfície (n/nₘ) . Ao variar a quantidade de moléculas sonda que interagem com a amostra, o iGC SEA gera perfis de energia em função da cobertura de superfície . Isso produz uma verdadeira “ mapa de heterogeneidade energética ” da superfície do pó.
Em vez de um único valor médio, o resultado é uma distribuição de energias — mostrando onde a superfície é mais ativa, mais polar, mais coesiva.
A componente dispersiva pode ser obtida pelo método de Dorris e Gray , enquanto a parte específica ácido-base é calculada a partir da energia livre de adsorção de sondas polares, com base em parâmetros de acidez e basicidade de Lewis. Tudo isso é processado pelo software dedicado do iGC SEA.
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Mudanças de fluxo podem ser explicadas só por tamanho de partícula?
Um dos pontos fortes desse estudo é demonstrar que não . Mesmo mantendo uma faixa de tamanho de partícula controlada, o comportamento de fluxo muda de forma significativa quando se altera a química de superfície do D-manitol.
O D-manitol AR apresenta um perfil de energia nitidamente heterogêneo : a componente dispersiva γᴰ varia em uma faixa ampla (cerca de 37,5 a 52,6 mJ/m²), e a contribuição ácido-base é mais elevada, com maior razão γᴬᴮ/γᵀ. Em termos práticos, isso representa uma superfície mais polar, mais molhável e com sítios de alta energia , que tendem a favorecer coesão e formação de pontes sólidas ou líquidas.
Figura 3 Perfis de energia superficial dispersiva em função da cobertura de superfície
Já o D-manitol silanizado mostra uma superfície muito mais homogênea , com γᴬᴮ médio em torno de 1,6 mJ/m² e uma razão γᴬᴮ/γᵀ baixa, típica de materiais hidrofóbicos e pouco polares . Esses dados indicam uma superfície com menos sítios fortemente energéticos e comportamento mais uniforme em adsorção e interação partícula–partícula.
Figura 4 Perfis de energia superficial ácido-base
Figura 5 Perfis de molhabilidade (γAB / γT) em função da cobertura de superfície
Conclusão prática: mesmo sem mexer na granulometria, a redução da polaridade e da heterogeneidade energética leva a um pó menos coesivo e mais previsível.
Como quantificar o efeito de um tratamento de superfície?
Aqui o iGC SEA mostra seu maior valor para técnicos e pesquisadores: ele permite quantificar, com números e perfis , o impacto de um tratamento de superfície.
Antes da metilação, os perfis de energia de D-manitol exibem ampla heterogeneidade e alta contribuição ácido-base. Depois da silanização, os mesmos perfis se “estreitam”, com menor variação de γᴰ e queda significativa em γᴬᴮ.
Essa comparação de perfis antes e depois do tratamento torna possível responder perguntas como:
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O tratamento reduziu a polaridade de fato ou apenas “limpou” a superfície?
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A superfície ficou mais homogênea ou surgiram novos sítios de alta energia?
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Diferentes reagentes ou condições de reação levam ao mesmo efeito energético?
Para desenvolvimento e otimização de rotas de processo, isso significa sair da tentativa-e-erro e entrar em um regime de engenharia orientada a dados de superfície .
Como conectar energia superficial e fluxo de pó na prática?
Para transformar esses dados em linguagem de processo, o estudo utiliza o FT4 Powder Rheometer , medindo:
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Basic Flowability Energy (BFE) – energia necessária para deslocar o pó em um fluxo padrão
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Energia aerada – o comportamento do pó sob passagem de ar
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Stability Index – o quanto a resposta muda ao repetir o teste
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Consolidation Index – a sensibilidade à consolidação
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Wall friction angle – o atrito do pó com superfícies sólidas típicas de equipamentos
Os resultados são bastante ilustrativos:
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O D-manitol AR apresenta BFE em torno de 333 mJ, energia aerada mais alta e comportamento instável em baixas velocidades de ar, além de um CI mais elevado e ângulo de atrito com parede ligeiramente maior. Tudo isso aponta para um material mais coesivo e mais sensível às condições de manuseio .
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O D-manitol silanizado , por outro lado, tem BFE reduzida para cerca de 87,7 mJ, energia aerada menor, CI mais baixo e ângulo de atrito ligeiramente reduzido, caracterizando um pó claramente mais livre-fluxo e menos sujeito a problemas de consolidação e escoamento .
Figura 6 Energia de fluxo em função da aeração medida no reômetro de pós FT4
Em paralelo, a partir dos valores de energia superficial, é possível estimar o trabalho termodinâmico de coesão . Os dados mostram que o material com superfície mais heterogênea e polar (AR) apresenta maior coesão , exatamente em linha com o que o FT4 mede em termos de fluxo.
Figura 7 Trabalho termodinâmico de coesão em função da cobertura de superfície
Ponto-chave: a ponte entre iGC SEA e FT4 é construída pela coesão termodinâmica — e ela fecha o ciclo entre química de superfície e desempenho em equipamento real.
É possível prever problemas de fluxo a partir de medidas de energia?
O estudo aponta que sim, especialmente quando se observa:
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Perfis de energia superficial amplos e heterogêneos , que tendem a indicar maior coesividade
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Contribuições ácido-base elevadas , sugerindo superfícies mais polares e mais propensas à adsorção de umidade ou formação de interações específicas
Materiais com esse tipo de assinatura energética têm maior probabilidade de apresentar:
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instabilidades em funis e silos
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dificuldade de enchimento de matrizes e cápsulas
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variabilidade de fluxo entre lotes aparentemente “iguais” em granulometria
Por outro lado, superfícies mais homogêneas e menos polares tendem a se comportar como pós mais “fáceis” do ponto de vista reológico , desde que demais variáveis (distribuição de tamanho, forma, densidade) estejam sob controle.
Tratamentos para melhorar o fluxo são realmente eficazes?
Uma dúvida recorrente na prática é se tratamentos propostos para “melhorar fluxo” de fato entregam o que prometem. O estudo com D-manitol dá um exemplo de como responder isso de forma objetiva:
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Mede-se a superfície antes e depois com iGC SEA, observando as mudanças em γᴰ, γᴬᴮ, γᵀ e nos perfis de heterogeneidade.
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Compara-se o comportamento de fluxo antes e depois com FT4 (BFE, CI, energia aerada, atrito de parede).
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Verifica-se se a redução de coesão e a melhora em fluxo correspondem às alterações de energia superficial esperadas.
No caso da silanização do D-manitol, a resposta é clara: a modificação de superfície realmente entrega um pó mais livre-fluxo e com comportamento mais estável , em resposta direta à redução da polaridade e à homogeneização energética.
Com esse tipo de abordagem, decisões sobre tratamentos de superfície deixam de ser “sensação de bancada” e passam a ser justificadas por métricas quantitativas .
Por que o iGC SEA interessa a quem desenvolve formulações e processos?
Para técnicos, pesquisadores e engenheiros que lidam com pós farmacêuticos, alimentícios, cerâmicos ou químicos, o estudo mostra que o iGC SEA:
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permite enxergar a superfície de forma distribuída , e não apenas por valores médios
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ajuda a explicar diferenças de fluxo entre lotes , rotas de síntese ou condições de secagem
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dá base para projetar tratamentos de superfície, coatings e blends orientados a metas de fluxo específicas
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complementa de forma poderosa técnicas reológicas como o FT4, criando um quadro completo do material
Em resumo: o iGC SEA transforma a energia superficial em uma variável de projeto, não apenas em um dado de caracterização.
Conclusão: da caixa-preta ao controle fino de superfície
O estudo com D-manitol demonstra, com um caso real de excipiente, que:
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Superfícies energéticas heterogêneas e polares tendem a gerar pós mais coesivos e instáveis.
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Modificações químicas de superfície podem ser caracterizadas e quantificadas pelo iGC SEA, e seus efeitos avaliados diretamente em termos de fluxo com FT4.
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A combinação dessas duas ferramentas permite sair de um cenário de tentativa-e-erro e avançar para formulação e engenharia de processo baseadas em energia superficial , com impacto direto em robustez, escalonamento e desempenho industrial.
Para quem vive no mundo dos pós, esse tipo de abordagem não é apenas academicamente interessante — é uma forma concreta de reduzir risco, ganhar previsibilidade e encurtar o caminho entre desenvolvimento e produção .
Veja estudo completo: https://dafratec.com/storage/file/Case%20Study%20611%20D-Mannitol%20Flowability.pdf
Perguntas frequentes sobre o estudo com D-mannitol e o iGC SEA
1. O que o estudo com D-mannitol pretendeu demonstrar?
O principal objetivo foi relacionar a energia superficial e sua heterogeneidade com as propriedades de fluxo de pós, mostrando como modificações químicas influenciam o comportamento do material.
2. Por que a energia superficial é importante em pós farmacêuticos?
Porque ela influencia diretamente a coesão, a molhabilidade e a formação de aglomerados, impactando a fluidez, a compressão e o enchimento de cápsulas ou matrizes.
3. Como o iGC SEA mede a energia superficial de um pó?
O equipamento injeta moléculas sonda sobre um leito de partículas empacotadas e calcula a energia de adsorção, gerando perfis de energia dispersiva e ácido-base em função da cobertura de superfície.
4. Qual a diferença entre D-mannitol AR e silanizado?
O D-mannitol AR apresenta uma superfície polar e heterogênea, enquanto o silanizado, após metilação, se torna hidrofóbico e energeticamente mais homogêneo, resultando em melhor fluidez.
5. O que representa o parâmetro γAB/γT mostrado nas análises?
É a razão entre a componente ácido-base e a energia total da superfície. Valores menores indicam menor polaridade e maior hidrofobicidade, o que melhora o escoamento do pó.
6. Como o FT4 Powder Rheometer complementa as análises do iGC SEA?
O FT4 mede propriedades de fluxo dinâmico, como energia de escoamento e atrito, permitindo correlacionar a química de superfície medida pelo iGC SEA com o comportamento real do pó em processo.
7. Quais conclusões práticas o estudo trouxe para a indústria?
Mostrou que ajustar a química de superfície pode melhorar o fluxo de pós sem alterar a granulometria, e que o iGC SEA permite prever e controlar esses efeitos de forma quantitativa.